Ontem foi um importante dia na história do mundo: pela
segunda vez, tivemos o privilégio de ver um conclave acontecer e eleger o
terceiro Papa da maioria de nossas vidas.
Ao mesmo tempo que, apesar de não frequentar a religião
católica, emocionei-me com a postura do novo representante, fiquei estupefata
com a falta de cultura, respeito e educação que permeou os comentários “facebookianos”.
Depois de um mega discurso para os meus filhos no carro,
quando voltava daqui da escola, explicando o que é um Papa, o que é um
conclave, o que é o Vaticano, chegar em casa e mostrar fotos de quando estive
por lá, explicando sobre a Igreja e seus representantes, sobre a cultura de um
país e de um mundo, ligar a TV e fazê-los ouvir o noticiário anunciando as
primeiras palavras de Francisco, explicar a fumacinha branca, fazê-los entender
porque lá é noite e aqui é dia, porque ele fala em Italiano se ele é Argentino,
e mais uma infinidade de coisas, deparo-me com um Facebook satirizando a ascendência
do Papa ou anunciando o fim dos tempos depois dessa eleição.
Não sei nem que adjetivo escolher para revelar a minha
indignação (ou talvez frustração?).
Jamais entrarei no mérito religioso, até mesmo porque não
estou aqui para isso. Estou entrando no mérito social, cultural e histórico que
o momento merece.
Logo depois do jantar, coloquei-me a estudar para a prova de
ciências com meu filho, que tinha como capítulo o exercício de cidadania, o
respeito ao próximo, independentemente de sexo, cor, CREDO ou condição sócio-econômica.
Explicava para o meu filho que somos todos iguais e que jamais podemos nos
achar melhores que ninguém. Que nossa educação deve ser sempre a mesma, ao
entramos no elevador temos que cumprimentar as pessoas, independentemente delas
responderem ou não, delas serem altas, baixas, bem vestidas ou mal vestidas. Temos que agradecer por tudo que nos fazem, seja essa pessoa a nossa empregada
doméstica ou o nosso chefe. Temos que tratar todos com respeito, seja um
mendigo de rua ou o presidente do nosso país. Temos que respeitar as
opiniões alheias, independente de estarem de acordo ou não com o que pensamos.
Nesse momento, eu fiquei aliviada do meu filho ter apenas 6 anos e não ter Facebook.
Senão, como seria? Depois de um lindo discurso da mamãe e da sua escola (através do material pedagógico), falando que temos que
ter respeito pela diversidade, ver as pessoas malhando o Papa e sua igreja em
praça pública?
Nesse momento, eu fiquei aliviada de ser diferente da grande
maioria das pessoas que ali postavam e de dizer com honra e dignidade que
ensino valores aos meus filhos (e exijo que eles aprendam), que eu mesma cumpro sem
dificuldades.
Nesse momento, eu fiquei aliviada de saber que um dia terei
muitos motivos para me orgulhar dos meus filhos, por eles terem conhecimento
sobre aquilo que não faz parte do dia-a-dia deles, mas que faz parte do mundo. Por eles poderem fazer uma viagem à Europa e saberem muitos dos motivos pelos
quais as coisas lá estão, daquela forma, até os dias de hoje. Por eles terem arraigados em suas vidas cultura, valores e, principalmente, ética que os tornarão seres humanos cada dia melhores.
Nesse momento, eu fiquei triste... Afinal o que será do
mundo daqui uns anos?
Priscila Zunno Bocchini